Carreira, Vida Acadêmica

Estamos vivenciando transformações profundas na sociedade e, naturalmente, elas já fazem parte também do mercado e das relações de trabalho. Entre elas, estão o maior entendimento de todas as esferas da diversidade e a chegada dessa pauta nas organizações.

Já nos preparamos para o mercado de trabalho e para desenvolvermos o profissional do futuro, mas não se pode construir um cenário de avanços sem considerar a pluralidade e  sem criar as condições adequadas para que ela seja uma realidade. E aí, topa ter essa conversa? 

Quem compartilhou um grande conhecimento conosco foi Leonardo Drummond, especialista e profundo conhecedor da área. Ele é jornalista, graduado na PUC Minas, mestre e doutor, trabalha hoje com docência e fundou uma consultoria de Diversidade e Inclusão, que atua internacionalmente. Léo Drummond, como assina, é também colunista do jornal Estado de Minas, onde escreve e discute temáticas relacionadas à diversidade. 

O que é analista de Diversidade e Inclusão

A conversa com ele foi muito proveitosa, isto é, uma verdadeira aula de como a pluralidade é rica para indivíduos, organizações e sociedade. Então, hora de conferir! 

1) Qual sua formação? Como foi sua trajetória até atuar no campo da diversidade? 

Sou jornalista, formado pela PUC Minas, pós-graduado em Produção e Crítica Cultural, também pela PUC Minas. E fiz mestrado e doutorado em Estudos de Linguagens no Cefet MG. Comecei minha carreira trabalhando no jornalismo de maneira mais tradicional. Primeiro, trabalhei em pequenos jornais, como jornal de bairro, fazendo pequenas publicações. Depois trabalhei como assessor de comunicação; então, atuei na assessoria de imprensa, assessoria de comunicação de forma mais geral também e, depois de um tempo, fiz um programa de televisão sobre artes cênicas, que passava na Rede Minas de Televisão. 

Após essas experiências, que eram mais ligadas ao jornalismo no dia a dia, atuei na área de audiovisual, produção audiovisual, na PUC Minas. Na PUC Minas Virtual, eu fazia videoaulas, vídeos institucionais. Fiquei um bom tempo, sete anos, na PUC Minas. E,  nessa trajetória, comecei também a atuar como educador dentro da PUC. Fui convivendo muito com professores e professoras e me interessando pela Educação. Foi a partit daí que resolvi fazer meu mestrado e depois o doutorado e comecei a ter minhas primeiras experiências como docente. 

Depois disso, saí da PUC e fui para o Grupo Ânima de Educação, para trabalhar com Inovação e Educação. E foi lá, lidando com a Inovação em Educação, que eu comecei a trabalhar com Diversidade e Inclusão e passei a entender que, de fato, o respeito à diversidade também é uma competência que a gente precisa desenvolver em todas as pessoas e como isso traz  benefícios para a sociedade e para as organizações. 

E assim eu fui desenvolvendo minha carreira, até que, junto com outras professoras,  Clara Teixeira e Samara Barbosa, que também se envolviam com projetos de Diversidade e Inclusão, eu fundei a Diversifica, uma empresa de consultoria e treinamentos em Diversidade e Inclusão e é com o que eu trabalho hoje. Ainda dou aulas em pós-graduações da PUC Minas e da HSM University. Então, ainda atuo como professor. Antes eu ministrava aulas de outros temas em Comunicação, agora exclusivamente de Diversidade e Inclusão e faço consultoria e treinamento pela minha empresa. 

2) Qual o papel do profissional de Diversidade e Inclusão nas organizações? E na sociedade?

O que a gente faz é basicamente fomentar, desenvolver uma cultura de mais diversidade e inclusão, de respeito à diversidade e à inclusão dentro das organizações; considerando todas as questões: como a liderança lida com o tema, como a comunicação da organização se posiciona e o respeito à inclusão, o pertencimento mesmo dos colaboradores e das colaboradoras dentro daquela organização. 

E são muitas as ações que precisamos fazer; por exemplo, diagnosticar como é hoje a diversidade da organização, como são as ações de inclusão das pessoas de grupos minorizados… Há assédio moral? Há discriminação e uma cultura de piadas preconceituosas? Há falta de acessibilidade para pessoas com deficiência, entre outras pessoas que precisam de acessibilidade? Então, são várias atividades que a gente vai fazendo para que se crie uma cultura de diversidade e inclusão dentro das empresas. 

Também apoiamos as áreas de Marketing, de Comunicação, as ações de RH… E,  quando há um setor de Diversidade e Inclusão dentro da organização, ele apoia todas as outras áreas da empresa. No meu caso, que trabalho com consultoria, eu apoio quem vai trabalhar com Diversidade e Inclusão na organização, porque muitas vezes é uma área muito nova, e as pessoas não estão preparadas, geralmente, para trabalhar com profundidade nesse tema. Então, muitas empresas (a maioria) precisam de um apoio externo, de especialistas, para conseguir fazer bem, de forma coerente e consistente, esses programas de Diversidade e Inclusão. 

3) Como é o mercado de trabalho atual e quais as projeções para os próximos anos?

Como é uma área muito nova, a gente percebe que, nos últimos três anos, as empresas começaram a criar mais vagas para analistas, gerentes, e até para direção e criação de novas áreas visando trabalhar com diversidade e inclusão. 

Também tem tido uma procura maior por consultoria e por treinamentos sobre o tema. Assim, eu vejo que é uma área em ascensão. É uma área que, internacionalmente, é possível ver que as empresas já estão trabalhando,  principalmente os países mais ricos têm trabalhado há mais tempo com áreas de Diversidade e Inclusão, com profissionais dedicados e dedicadas exclusivamente à diversidade. 

O Brasil, de uns tempos pra cá, tem entendido a importância de uma empresa ser mais diversa, ter uma cultura de inclusão, quais benefícios isso traz para a organização, e a partir disso, começaram também a criar esses espaços de trabalho. Acredito sim, pelo que tenho visto no mercado, que é um campo que está crescendo e que vai crescer muito mais nos próximos anos. 

As pesquisas mostram, certo? Capacidade de resolver problemas complexos, criatividade, inovação muito mais forte, porque, quando há pessoas diferentes, com vivências muito diferentes, consegue-se analisar os problemas que acontecem e também criar soluções, criar produtos, serviços, de uma maneira muito mais rica. Então, se você trabalha com clientes, você consegue pensar melhor em como atingir mais clientes, quando se tem pessoas diversas, pensando juntas aquelas soluções. 

Por exemplo, o software de reconhecimento facial estava dando muitos problemas com o reconhecimento do rosto de pessoas negras. Por quê? Muito possivelmente, pessoas brancas estavam desenvolvendo o  sistema, somente pessoas brancas testando, aí o software facial reconheceu bem o rosto dessas pessoas, mas, pela falta de pessoas negras na equipe, houve um problema no sistema, que não reconhece rostos negros. E o que faltou aí? Faltou uma equipe diversa. Com uma equipe diversificada, não deveria ter tido esse problema ao chegar no público. O sistema, depois, não precisaria passar por todas as etapas de refação, de correções no sistema,  que leva tempo.  E a reputação, que fica abalada, quando tem esse tipo de problema. Dessa forma, equipes diversas fazem tudo fluir muito melhor e permitem que todos os serviços e produtos cheguem de modo mais assertivo ao público. 

4) Quais as principais soft skills que esse profissional deve ter?

Entre as que são muito necessárias para um profissional de Diversidade de Inclusão,  a empatia é essencial, capacidade de resolver problemas complexos também, porque é uma área muito nova. Logo, problemas relacionados a esse tema, ao assédio, à discriminação, ao preconceito vão acontecer nas organizações, e,  não tem ‘receita de bolo’ pra resolver. Assim, é preciso criatividade e capacidade de resolver problemas complexos, sem soluções já testadas anteriormente.  O profissional vai ter que criar uma solução diferente muitas vezes, diante daquele contexto em que está,  que a organização está vivendo. 

Pensamento crítico também é uma soft skill muito relevante, porque você precisa conseguir analisar bem o que  está se dando na organização, como a sociedade lida com essa questão e entender problemas sociais. Você deve conseguir identificar os problemas sociais que estão ocorrendo, enxergar um contexto global, um contexto nacional, para poder depois pensar nas soluções, nas ações, nos programas, treinamentos que vão ser necessários. 

Comunicação e colaboração também são outras soft skills que eu destaco, porque sempre vamos precisar pensar como que a organização vai se desenvolver no tema, pois quem trabalha com Diversidade e Inclusão não vai resolver nada sozinho. A pessoa  vai resolver em conjunto com outras pessoas, trabalhando em equipes múltiplas, e a comunicação vai precisar ser uma de fácil entendimento para todos e todas, uma comunicação efetiva, uma comunicação que considere a maneira como as pessoas aprendem.

5) Quais cursos superiores são indicados para quem deseja trabalhar na área?

Para trabalhar na área, não tem um curso superior específico. Profissionais que vêm de diferentes cursos podem trabalhar com Diversidade e Inclusão. É muito comum que as pessoas que fizeram cursos de Administração, de Gestão de Recursos Humanos, de Comunicação e de Psicologia sejam as que mais se interessam pelo campo. Mas eu conheço pessoas da Engenharia que trabalham na área, conheço pessoas do Direito, que trabalham na área das Ciências Sociais e de outros segmentos. É um  setor que está aberto para pessoas com diferentes graduações. Existem cursos específicos de aperfeiçoamento, de pós-graduação,  de especialização e que vão ajudar a preparar para as especificidades do trabalho com a Diversidade e a Inclusão.

6) Quais dicas você pode dar a quem se interessa pela área e está em fase de vestibular ou no início da faculdade?

As dicas para quem está em fase de vestibular e  início de carreira e que quer começar a trabalhar com Diversidade e Inclusão, são: primeiro, aproveite ao máximo para conhecer e trabalhar com pessoas diferentes de você. Ouça, aprenda com essas pessoas, porque a gente começa a entender melhor a perspectiva dos outros, e isso nos ajuda muito a conseguir trabalhar melhor com a diversidade e a inclusão.

 E a universidade é um lugar muito rico, muito plural para que a gente tenha esse convívio. Também recomendo o estudo, o tentar aproveitar esse seu momento, independentemente do seu curso. Como você pode aproveitar os trabalhos, os estágios, os trabalhos que professores e professoras pedem para fazer, ali no dia a dia do curso, como é possível colocar a diversidade e a  inclusão junto daquilo? Porque a diversidade e a inclusão podem ser conectadas a áreas distintas. Então, se você está na Comunicação, como você vai fazer trabalho já considerando a representatividade de diferentes grupos minorizados dentro do trabalho que você faz, das imagens que você escolhe para usar no seu trabalho? Como você vai, na hora de escolher quem entrevistar, (se você tiver fazendo jornalismo como eu fiz, não é? ). Como você vai pegar pessoas que fazem parte de diferentes grupos sociais para fazer parte das entrevistas que você fará durante o trabalho da universidade… E assim, você vai se acostumar a não olhar somente para os grupos hegemônicos. Também  ficar muito atenta, muito atento ao que acontece no mundo, às discussões contemporâneas que se ligam aos movimentos sociais e aos grupos minorizados. Se envolva, participe de congressos, faça leituras, veja vídeos, palestras que vão versar sobre o tema, porque o mais legal é ir se desenvolvendo na sua área da graduação com um olhar diverso, com um entendimento da diversidade, com o entendimento sobre o que é inclusão e conectar as duas coisas, ou seja, conecte a sua área com o olhar para a diversidade.

Você que deseja dar os primeiros passos da sua carreira, já com esse olhar plural e inovador, que tal conhecer os cursos de graduação da PUC Minas

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