A Psicologia acompanha as transformações sociais e, ao longo de sua história, vem se renovando para atender as pessoas e a sociedade em suas principais demandas emocionais e comportamentais.
Como fica isso com novas pautas e debates sociais, tantas mudanças nas comunicações e um avanço gigantesco da tecnologia? Convidamos a professora Mirelle França, diretora da Faculdade de Psicologia da PUC Minas (FAPSI) para discutir o futuro da área, trazendo insights e dicas para você que está iniciando sua formação e entrando no mercado de trabalho, e também para você que quer se atualizar ainda mais sobre a área.
Então separe uns minutos do seu dia e leia a entrevista!
1) Como a tecnologia tem impactado a Psicologia e o mercado de trabalho no setor?
A tecnologia e a Psicologia têm uma aproximação que varia com base no tipo de intervenção que o psicólogo faz. Por exemplo, para o contexto da Psicologia organizacional, especialmente no que diz respeito a questões como recrutamento, seleção, avaliação psicológica, estratégias que podem ser usadas com ferramentas tecnológicas são muito frequentes nesse contexto.
Além disso, a tecnologia tem sido muito utilizada para as práticas psicoterápicas. Antes mesmo da pandemia, o Conselho Federal de Psicologia já tinha autorizado o uso de atendimentos on-line, mas com uma série de restrições. O atendimento on-line tem alguns princípios que devem ser seguidos para que ele aconteça de maneira eticamente adequada, e a tecnologia entra como uma ferramenta de mediação entre as pessoas, os usuários da psicoterapia e os psicoterapeutas.
Outra grande frente são estratégias e técnicas usadas dentro da psicoterapia através de realidade virtual para aproximação relacionada a fobias e treino de aproximação do estímulo. Quando uma pessoa tem uma fobia de alguma coisa, como de aranha, por exemplo, uma das técnicas da Psicologia, dentro de uma abordagem específica chamada análise do comportamento, faz aproximações sucessivas dessa pessoa com estímulo para que ela vá reduzindo a fobia. Temos hoje em dia aplicativos e óculos de realidade virtual em que a gente faz essa aproximação com estímulos virtuais. Então essas são algumas das formas como a tecnologia tem sido utilizada.
2) Estamos acompanhando muitas mudanças nas demandas sociais e com isso o surgimento de novos campos, como a Psicologia ligada a catástrofes climáticas e a zonas de guerra. Quais outras áreas tendem a surgir diante de tantas transformações?
Isso tem sido muito discutido, especialmente por conta das mudanças curriculares que a PUC Minas está fazendo como um todo, convidando-nos a pensar a formação. E para nós, em Psicologia, é sempre complexo pensar essa questão do que vai vir. Então o que a gente tem pensado em termos de proposição, até mesmo formativa, é que temos que preparar o nosso aluno para lidar com as emergências, desastres e inovações, independentemente de em qual âmbito isso aconteça.
Estou falando da necessidade de instrumentalizar esse aluno a pensar a partir daquilo que a Psicologia já produziu, estratégias interventivas e compreensivas dessas realidades. Por exemplo, na época da pandemia, não se imaginava que seria algo daquele tamanho, mas a produção em Psicologia foi enorme, porque a gente usou ferramentas técnicas e conceituais para pensar a aplicação da Psicologia nesses diferentes contextos.
Outras áreas em torno das quais estamos começando a nos debruçar são as catástrofes climáticas e as situações de migração e refugiados. Isso envolve especialmente questões relacionadas à elaboração das conexões dentro da própria Universidade. É o caso do curso do campus São Gabriel, em que tem acontecido uma discussão sobre a Psicologia aplicada ao contexto da aviação, em parceria com a Engenharia Aeronáutica. Então a gente tem pensado nessas perspectivas de maneira geral.
3) Como estudantes e profissionais podem se preparar para o futuro da Psicologia, levando em conta que boa parte das profissões que existirão na próxima década ainda não foram inventadas?
Uma das coisas mais importantes para o psicólogo do futuro é ser capaz de ser flexível, de usar a sua competência, suas habilidades de maneira flexível e inovadora. E usar o referencial teórico já construído para fazer inferências sobre novas situações — até porque a Psicologia é uma profissão que não vai se extinguir, temos visto cada vez essa tendência da Psicologia conquistar outros espaços. Então, se antes a gente estava muito presente na psicologia organizacional, educação, psicologia clínica, que sempre foram os carros-chefes, hoje o psicólogo é chamado a atuar em qualquer lugar, e temos observado isso inclusive como uma tendência midiática. Acontece um desastre, o que o psicólogo tem a falar? Acontece uma situação nova, o que o psicólogo tem a falar? O fenômeno dos influenciadores digitais, o que a Psicologia tem a falar? Então estamos sendo bastante requisitados, dado esse contexto de tantas transformações.
Portanto, nós temos considerado que a preparação para esse estudante e profissional do futuro é aquela em que é possível pensar fora da caixa, a partir de um referencial teórico e técnico, com preceitos éticos e sem ficarmos engessados. Vamos ter que inovar — e inovar com muita responsabilidade.
4) Quais as principais habilidades comportamentais que psicólogos e psicólogas precisam ter?
O profissional precisa ter muita seriedade, ser muito comprometido socialmente, ter muito rigor ético, técnico e conceitual. Isso é fundamental na formação em Psicologia. Além disso, tem que ser uma pessoa flexível. O psicólogo contemporâneo é um profissional flexível, que consegue se adaptar às demandas sem se prender ao que já não se usa. Resumindo, são esses dois pontos principais: a flexibilidade e a base conceitual sólida.
5) Como a PUC Minas prepara os estudantes de Psicologia para o mercado de trabalho do futuro? Quais os diferenciais da Universidade?
A PUC Minas tem muitos diferenciais com relação a esse perfil de psicólogo que pretendemos formar, e fazemos isso de muitas maneiras diferentes. Nós temos preparado os alunos com uma diversidade de campos teóricos e conceituais. Então, em termos de base teórica e conceitual, a formação é bem generalista. Somado a isso, temos uma imensa diversidade de estágios, que são o carro-chefe do curso. Desde estágios relacionados à arte em Psicologia até consultórios de rua, que é uma perspectiva contemporânea da Psicologia; passando por situações de desastres e emergências; estágios que pensam políticas globais; Psicologia socioambiental; e Psicologia política, que é uma área que cresce muito.
E nosso aluno, de fato, tem estágios reais. Nossos estágios não são simulações de realidade, eles são práticas reais mesmo. Esse aluno vai a campo, faz intervenções reais do quinto período até o décimo. Do segundo ao quarto período, quando eles estão iniciando o curso, caprichamos nos estágios que tem essa parte de produção do conhecimento e é superimportante que o aluno saiba pesquisar e saiba produzir conhecimento a partir daquilo que já está posto, mas em situações novas.
Então isso é bastante trabalhado nos primeiros períodos do curso. A nossa carga horária de estágio é alta. E o mais interessante é que a carga horária é obrigatória pela DCN (Diretrizes Curriculares Nacionais). Ou seja, a prática é real, e acontece em muitas frentes distintas.
Outro diferencial gigantesco da PUC Minas é a promoção de muitos eventos, como minicursos, palestras e debates sobre temas contemporâneos, com intuito de preparar nossos alunos para esse contexto das transformações continuadas.
6) Quais dicas você dá para quem pretende ser um profissional da área?
Além do que já mencionei, a dica é ser um estudioso. Costumo dizer para os alunos que um psicólogo bom é um psicólogo inquieto, ou seja, é aquele que precisa ler, buscar, estar sempre atento às mudanças do mundo contemporâneo e se apoiar na literatura que a gente já produziu de maneira a produzir novas que atendam às demandas que vão surgindo.
O principal é essa inquietude, essa curiosidade e muita vontade de mudar o mundo para melhor. Nosso desejo como psicólogos é cuidar para que as pessoas tenham uma saúde integral melhor, que tenham promoção da vida e promoção da saúde.
As dicas da professora Mirelle apontam direções e possibilidades que estão por vir para profissionais da Psicologia e os principais caminhos para construir uma carreira realizadora e próspera.
O primeiro passo você já deu, que é escolher a PUC Minas. Para conhecer mais o curso e as oportunidades que a Universidade oferece, confira o Guia do Estudante de Psicologia.