O jornalismo esportivo é uma das áreas que mais desperta interesse em quem pretende vincular a paixão pelo esporte à carreira como jornalista. É um campo dinâmico, com amplas possibilidades profissionais e que tem acompanhado as discussões e mudanças sociais da atualidade.
Você está de olho em uma carreira no jornalismo esportivo? Então é hora de aprender com as experiências de quem já atua na área.
Batemos um papo com a Mariana Spinelli e ela nos contou sobre sua história com a PUC Minas, formação, oportunidades e desafios até chegar à apresentação do SportsCenter, na ESPN. Vale muito a pena conferir e se inspirar com a trajetória da jornalista.
1. Como foi sua passagem pela PUC Minas e como isso impactou sua formação humana e profissional?
Minha passagem pela PUC Minas foi muito rápida, mas foi suficiente para me marcar, porque eu acho que são aqueles anos em que se está mais animado, que é logo quando entramos na faculdade. Entrei em 2016 e no meio de 2017 acabei saindo para me mudar para São Paulo.
Quando eu entrei na faculdade, minha cabeça expandiu para diversas questões. Entendo que, quando se fala de faculdade, vai além [dos estudos]. Óbvio que estamos ali pra estudar, mas falo das relações humanas, de conhecer pessoas de todos os tipos, ter acesso a outras conversas… A minha passagem pela PUC Minas me abriu a cabeça para realidades, para uma consciência que a minha profissão me pede muito. Falar com as pessoas, entender o mundo, ou mesmo tentar entender o máximo que eu puder do mundo.
Então me impactou, fiz amigos, tive conversas relevantes, me entendi como pessoa, foi um período muito especial. E profissionalmente também, as pessoas com quem fiz contato, fiz amizade, ou que passaram na minha trajetória, hoje são pessoas com as quais às vezes eu me encontro no mercado de trabalho, que ainda são meus contatos pra networking. Foi realmente botar um pezinho na realidade, sabe? Entender o que é a vida mesmo, a vida adulta, as coisas começando profissional e pessoalmente.
2. Conte-nos por favor sobre sua trajetória profissional até chegar à apresentação do SportsCenter.
Comecei na PUC Minas, primeiro ano, super divertido, estamos conhecendo muita gente, é tudo novidade, estamos empolgados com o curso. E ali no meio de 2017, surgiu uma possibilidade de fazer um processo de estágio para a ESPN. Nesse mesmo momento eu também entrei na PUC TV, que foi fundamental para o meu processo profissional. Entrei no estágio da PUC TV, em Minas, e ali eu tive um acesso ao dia a dia do que era o jornalismo, de produzir matéria, de entrar ao vivo, de fechar VT, de ter uma relação com a redação, de ver como é o dia a dia jornalístico mesmo. A PUC TV me deu um vasto material para eu me destacar no processo de estágio da ESPN.
Então fui para ESPN e acabei precisando sair da PUC Minas. Fiz os outros dois anos de formação em São Paulo, na PUC São Paulo, como estagiária na ESPN. Mas com a bagagem que eu já tinha adquirido na PUC TV em Minas, eu já conseguia fazer o meu trabalho de estagiária e já sugeria projetos, matérias, já gravava, já tinha muito mais “cara de pau” para viver o jornalismo. Aí foi um processo muito natural. Fiz edição de texto, produção, site, mas sempre já dando ideias, indo para a rua, acompanhando repórteres. Vivia para trabalhar. Não conhecia ninguém em São Paulo, por isso eu vivi muito ali na ESPN.
Veio então a pandemia, eu tinha sido contratada e acabei voltando para Minas, porque tudo fechou. A ESPN estava passando por um processo de fusão com a Fox e eu fiquei como repórter em Minas, durante a pandemia, mas de casa. Depois de mais ou menos um ano nessa dinâmica, a TV informou que estava remodelando ali os estúdios e os programas e me convidou para apresentar o Sport Center, que queria um tom mais jovem, enfim. Eu topei e foi tudo muito rápido, muito louco.
3. Quais os principais desafios e possíveis preconceitos de gênero que você encontrou para construir sua carreira no jornalismo esportivo, e como você os enfrentou?
Entendo que, quando se constroi uma carreira no jornalismo esportivo, primeiro é preciso entender que está se formando como jornalista e o esporte é uma das editorias. Então você tem que gostar muito da profissão.
E o esporte, ao mesmo tempo que ele tem esse lado muito mágico, ele acontece aos finais de semana, acontece numa quarta-feira, nove e meia da noite, não tem feriado, fim de ano, nada disso. O profissional vive muito em função do futebol, da rodada, dos campeonatos que não acabam nunca, das notícias que não param nunca. Portanto, você tem que amar muito o esporte, porque senão ele vai te sugar também.
Assim, o profissional acaba abrindo mão de muita coisa de lazer. Por exemplo, eu tinha saído de Minas para ir para São Paulo, então perdi muitos aniversários da minha família em BH, em São João del Rei, das minhas amigas… Perdi muito disso porque eu estava trabalhando aqui ou não tinha folga.
Mas eu acredito que também entra nessa questão de gênero. Eu tinha consciência desde o início de que eu não podia errar, que talvez um homem medíocre pode ter mais oportunidade do que uma mulher excepcional. Por isso, eu tinha que ser uma mulher excepcional a todo momento, porque senão eu poderia perder meu espaço para um homem medíocre. Eu tinha muito esse cuidado de sempre me cobrar muito e essa cobrança às vezes é cruel, porque a gente tem direito de errar.
O fato de ser mulher dá menos margem para errar, para cometer alguma besteira. Logo, me cobrei muito, de forma às vezes até inconsciente. Ter que se provar muito nas conversas, o quanto a mulher sabe, o quanto ela é boa, o quanto entende daquele assunto, o quanto pode falar daquele lateral, daquele atacante, daquele meio-campista, da história desse clube. E, querendo ou não, você tem que correr muito atrás da bagagem no esporte, porque os meninos crescem jogando videogame, conversando com os pais sobre esporte e já vêm com uma bagagem de certa forma intrínseca.
E muitas vezes eu também tive que correr atrás para criar essa bagagem, para ter essas referências, para ser uma mulher competente nesse meio. Então eu enfrentei esses possíveis preconceitos, e confesso que também fui muito privilegiada. No meu ambiente de trabalho na ESPN nunca sofri nada. É uma empresa “Disney”, com uma metodologia de igualdade e de inclusão muito forte. E ainda, talvez pela minha personalidade, consegui não deixar certos preconceitos, que poderiam ser sorrateiros e pequenos, me impedirem ou me intimidarem de alguma forma.
E claro, cada uma tem sua característica, tem seu jeito. Eu enfrentei. Primeiro me cercando de pessoas incríveis, fazendo grupos de mulheres e de homens, onde sentia uma confiança, que poderiam me ajudar nessa trajetória e aliviar esse processo. Sozinha a gente não faz nada. Tenho um grupo de amigos do trabalho muito bacana, que são meus parceiros e minhas parceiras.
Eu me preparei muito, estudei muito, não dava margem, estava sempre bem-informada para não deixar nada passar e eu nunca tive muito medo de perguntar para as pessoas em quem eu confio, nos momentos em que eu tinha dúvida, porque acho que isso foi me dando mais segurança na profissão.
Acredito que tive também muita “cara de pau”, muita força de vontade e por vezes muita resiliência, porque há horas em que a gente tem que respirar fundo.
4. Para você, quais são as principais soft skills que profissionais do jornalismo esportivo devem ter?
Isso é muito interessante, porque claro que é preciso entender de esporte e ter bagagem de esporte. Mas eu vejo muita gente que entende muito de esporte e entende pouco de jornalismo. E essas pessoas também não vão sobreviver na área. Você precisa entender o que é notícia, se tal assunto é um debate legal para o programa ou não. Se ali tem uma notícia, se ali tem uma apuração, se ali tem uma informação. Se desse fato você consegue puxar uma pauta interessante. Então não adianta nada você saber quem é o lateral esquerdo do Eintracht Frankfurt, o time da Alemanha, se você não souber que talvez algo que aconteceu no jogo é uma pauta interessante, é uma matéria legal.
Entender de futebol não garante ser um bom jornalista esportivo. É importante você gostar da profissão, entender o que é a profissão, ter noção de jornalística, de pauta, de notícia, de critério de noticiabilidade.
Você tem que ter referências, tem que consumir formatos diferentes de conteúdo (que fujam do jornalismo esportivo) para também ter ideias de como adaptar isso para o seu dia a dia. E entender o jornalismo como um todo, as suas áreas. Se você é bom na escrita, leia bastante, ouça bastante. Se você está na TV, no audiovisual, compreenda todo o caminho para você chegar ao produto final de um vídeo, de uma matéria, de uma apresentação. Como foi editado, como foi gravado, qual o melhor jeito de enquadrar…
Você não precisa saber editar, você não precisa ser um monstro em tudo. Mas você precisa entender o processo — tanto para facilitar o seu trabalho em equipe quanto para você incrementar o seu trabalho. Por exemplo: “eu sei que normalmente eles editam assim, então vou gravar aqui porque eu acho que vai ser mais legal, vai ser diferente”. Conhecer todos os processos te transforma em um profissional melhor, de grupo. Você consegue trabalhar em diversas frentes, com vários tipos de pessoas, em vários tipos de ambientes.
5. Quais dicas você compartilha com quem deseja seguir no jornalismo esportivo?
O estudante tem que gostar muito da profissão, gostar de jornalismo e depois gostar muito de esporte. Você precisa saber onde você está entrando, ou seja, entender como será a sua rotina, como será o seu dia a dia. Não é só glamour. Os dias legais são muito legais, mas você não vai viver o dia legal todos os dias. Nem todo dia é final de Copa do Mundo.
Dessa forma, você tem que gostar de tudo, dos dias mais banais, dos dias mais tranquilos, dos dias mais sem graça, das coberturas menores, de não ir para uma cobertura no início, e mesmo assim gostar da profissão.
Você tem que acreditar em alguma coisa, você tem que querer fazer alguma coisa com o jornalismo, nem sempre é mudar o mundo. Mas tem que ter alguns valores e saber quem você vai ser nesse meio, para você não ser vendido, não ser corrompido e não acabar perdendo o brilho dos olhos… Acredito que é como minha mãe sempre fala: nunca perder de vista o seu ponto de partida. Entenda sempre por que você está fazendo algo. E, além de tudo, ser uma pessoa agradável.
Saiba ser de grupo, conviver com as pessoas, conversar com as pessoas, entender o trabalho dos outros, entender a função dos outros. Profissionalmente você vai se moldando, você vai errando e aprendendo e acredito que é por aí.
Muito bacana e inspiradora a trajetória da Mariana, não é mesmo? Assim como ela, você vai precisar fazer escolhas, ter determinação e batalhar para fazer acontecer. Por isso, dê o primeiro passo para construir a carreira que tanto sonha e venha cursar Jornalismo na PUC Minas.
Aproveite também para conhecer a Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas e saiba onde serão suas aulas, como são os laboratórios, os grupos de estudos, os projetos e tudo o que está por vir.