A participação das mulheres no campo científico sempre foi ativa e inovadora. São inúmeras contribuições e pioneirismo em todas áreas. Ainda que por séculos toda essa relevância tenha sofrido um apagamento, elas estão nas invenções, nas pesquisas, nos grandes estudos e nas mais diversas descobertas.
Nada mais justo que uma iniciativa que enaltece o trabalho das mulheres na ciência, abre espaços de diálogo e de construção e gera oportunidades para atuais e futuras cientistas, com os devidos reconhecimentos. Afinal, apesar de certa invisibilização, as mulheres estão à frente de uma vasta gama de projetos científicos.
Todo esse cenário e as vivências da professora Lúcia Lamounier deram origem ao projeto Elas na Ciência, que você conhecerá agora. Ela, que está à frente do trabalho, nos contou tudo sobre o projeto e recomendamos fortemente que você confira.
1) Como surgiu a ideia do projeto Elas na Ciência?
A inspiração deste projeto vem do momento em que eu trabalhei num grupo da UFMG, o projeto Brumadinho-UFMG. Nele, fiquei responsável pela comunicação pública de todo o trabalho dos cientistas que desenvolveriam projetos. Assim, eu desenvolvi um site para divulgar as metodologias, quem eram os professores, a formação das equipes etc. E, num certo momento, como observei que nas equipes havia muitas mulheres — tanto coordenando projetos quanto participando deles, por exemplo, alunas em níveis de iniciação científica, de mestrado, de doutorado e até de pós-doutorado — entendi que era muito importante que fizéssemos um registro específico do trabalho dessas mulheres. Então fiz neste projeto.
Depois, fiz uma especialização em Comunicação Pública da Ciência e, como meu trabalho de conclusão de curso, resolvi fazer uma proposta que seria a divulgação do trabalho das mulheres na PUC Minas, muito inspirada por esse projeto anterior. Foi assim que nasceu esta ideia. Submeti o projeto, então, ao edital FIP (ele é um FIP institucional), e o Elas na Ciência já tem dois anos.
2) Quais os principais objetivos desta iniciativa?
O objetivo central deste projeto é fazer um registro da memória do trabalho das mulheres, tomando a perspectiva da memória como uma modalidade de divulgação pública da ciência. Então é o registro do trabalho dessas mulheres também para dar visibilidade a esse trabalho. Considero muito importante, dentro da própria Universidade, porque nós às vezes desconhecemos o trabalho das mulheres nos campos mais diversos — seja nas Ciências Exatas, nas Engenharias, na Matemática, nas Ciências da Saúde, nas Ciências Humanas, nas Ciências Sociais e Sociais Aplicadas, como a Comunicação, por exemplo. Portanto, o objetivo é fazer um registro de memória e dar visibilidade ao trabalho das mulheres na ciência da PUC Minas.
3) Como você considera que o projeto contribui para o fortalecimento das pautas de diversidade, equidade e inclusão?
O projeto tem como foco o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5, que é a equidade de gênero. Quando se olha todos os desdobramentos desse objetivo naquilo que é o compromisso do Brasil, há uma questão muito importante acerca da conquista da equidade de gênero no que diz respeito à prática da ciência, a toda uma perspectiva da defesa da escolaridade (inclusive com recorte da interseccionalidade) e também na perspectiva do acesso às práticas de comunicação. Portanto, é um projeto que vai exatamente ao encontro do ODS 5 da ONU.
4) Quem pode participar do Elas na Ciência? Como se inscrever?
Todas as mulheres que fazem ciência na PUC Minas; que estão dedicadas à pesquisa; professoras que, mesmo não estando nos programas de pós-graduação, desenvolvem e orientam a iniciação científica; além de professoras em níveis de mestrado e de doutorado.
E não é exatamente uma inscrição. O que a gente tem feito nessa metodologia central do trabalho é uma “metodologia de bola de neve”. Uma professora indica a outra, que indica a outra e assim vamos formando uma rede. É nesse sentido. E, até onde o projeto já caminhou, não temos todas as áreas totalmente representadas.
Por exemplo, estamos fechando este ano e estou conversando com professoras que são das áreas ligadas à Saúde. Enfim, é assim que as professoras vão chegando até o projeto. Algumas alunas de iniciação científica ou que são orientadas por alguma professora me indicam e por aí vai.
5) Quais habilidades e competências as estudantes podem desenvolver com a participação no projeto?
As habilidades são as mais diversas, desde o entendimento do que é a divulgação pública da ciência, dos seminários, da parte teórica que nós desenvolvemos, até as habilidades práticas. Estas são a realização da entrevista, a edição e produção em vídeo dessa entrevista (o que é muito importante), a própria produção do site e também aquilo que é o nosso sustentáculo atual, que é o Instagram. Portanto, toda a habilidade de também fazer divulgação nessas plataformas.
6) Como você considera que o projeto Elas na Ciência impacta o mercado de trabalho como um todo?
Em termos de impacto no mercado de trabalho, ainda não temos ferramentas para fazer essa medição. O projeto ainda está restrito e, mesmo dentro da Universidade, ainda foi pouco divulgado. Fizemos o lançamento do projeto recentemente, no Seminário de Iniciação Científica.
Acredito que o impacto é muito mais na perspectiva de uma contribuição para a questão da ciência. A prática da ciência e o olhar específico das mulheres em termos da sua narrativa sobre o que é ser uma mulher e fazer ciência no Brasil.
Quais são os desafios de conciliar essa prática científica com a questão da maternidade, com a família, com as hierarquias de gênero que são enfrentadas ao longo da sua trajetória… Dessa forma, considero que ele contribui muito mais para o campo da questão da história da ciência e de gênero, com esse recorte das mulheres na história da ciência.
Como vimos, o projeto Elas na Ciência tem uma proposta inovadora, completamente alinhada às tendências de mercado e ao fortalecimento de pautas relevantes para o desenvolvimento da nossa sociedade. Para acompanhar tudo que acontece nesse trabalho, acesse o site do projeto.
Ficou de olho nesse campo da pesquisa? Então dê um passo à frente e entenda o que é e como funciona a Iniciação Científica.