Há alguns anos, acreditava-se que uma rotina atribulada, uma agenda sempre cheia, horas extras e excesso de responsabilidades faziam parte da vida de um profissional de sucesso. Estar sempre trabalhando ou mesmo atendendo uma ligação fora da jornada já foi lido como sinal de status e alta produtividade. Contudo, esse estado de constante alerta e falta de descanso não é sustentável em médio e em longo prazos. Uma das consequências dessa avalanche de compromissos e tarefas é o tema que vamos tratar hoje: a síndrome de burnout.
Trata-se de um esgotamento físico e principalmente mental em relação ao trabalho e, em decorrência do burnout, podem surgir diversos problemas e complicadores para o profissional, que influenciam todas as esferas de sua vida.
É importante que você, que está iniciando a faculdade e a carreira, já fique por dentro do assunto, a fim de aprender a criar uma conexão saudável com o trabalho e a profissão. Então, acompanhe a seguir.
Entenda o que é exatamente a síndrome de burnout
Conhecida também como a síndrome do esgotamento profissional, ela diz respeito a um quadro psíquico, causado pelo estresse extremo, tensão emocional constante e uma exaustão acentuada em relação ao trabalho de uma pessoa.
Embora o tema tenha se popularizado há pouco tempo, principalmente no cenário da pandemia, esse é um conceito surgido na década de 1970. Aqui no Brasil, desde 1999 a síndrome de burnout está relacionada às doenças ocupacionais, mas demorou mais alguns anos para ser mais discutida.
Os altos números de incidência têm chamado a atenção das instituições relacionadas à saúde, segurança e qualidade de vida no trabalho e até mesmo da OMS (Organização Mundial de Saúde). Conforme pesquisa da ISMA-BR (International Stress Management Association), o Brasil é o segundo na lista dos países com maior índice de burnout. Já a ANAMT (Associação Nacional de Medicina do Trabalho) divulgou, em 2019, resultados de uma pesquisa da instituição, na qual foi apurado que cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros estão profissionalmente esgotados.
E foi também em 2019 que a OMS (Organização Mundial de Saúde) incluiu na CID (Classificação Internacional de Doenças) uma classificação específica para a síndrome de burnout, devido à abrangência e gravidade das complicações. Ela foi cadastrada na CID 11.
Conheça as principais causas da síndrome de burnout
Mais frequente em profissionais que trabalham constantemente sob pressão, a síndrome de burnout vem de situações adversas e excessivamente estressantes no contexto laboral. Estamos considerando aqui características extremas e prejudiciais, com a clareza de que todas as atividades profissionais envolvem desafios, divergências e obstáculos a serem vencidos. O esgotamento ocorre quando se extrapola a normalidade.
Esta síndrome tem diversas causas, dentre as mais relevantes, podemos citar:
- Volume excessivo de tarefas e responsabilidades;
- Cobrança desproporcional por metas e resultados, partindo da liderança ou do próprio profissional;
- Ambiente de trabalho hostil;
- Líderes despreparados;
- Condições de trabalho inadequadas e degradantes;
- Falta de reconhecimento por parte da liderança e da empresa;
- Desvio de função;
- Remuneração abaixo da média;
- Assédio moral.
O burnout, em alguns casos, pode estar relacionado a outros quadros emocionais, como a síndrome do impostor.
Saiba quais são os sintomas mais comuns
O esgotamento não acontece de uma vez ou do dia para a noite. É um processo lento, muitas vezes imperceptível, com piora gradativa. Pode acontecer em diversos níveis de intensidade, o que pode trazer sintomas diferenciados.
Por exemplo, em uma fase inicial, pode ocorrer uma supervalorização do trabalho em relação a outros campos da vida e, mesmo sem ter consciência, o indivíduo absorve demandas cada vez maiores, o que gera ainda mais cansaço. Já em níveis mais avançados, de esgotamento profundo, é possível surgirem sintomas mais graves, como desenvolvimento de outras síndromes, como ansiedade, e de doenças emocionais, como a depressão.
A seguir listamos os sintomas mais comuns, veja só:
- Constante sentimento de culpa ou vergonha;
- Isolamento social;
- Dificuldade de “desligar” do trabalho;
- Sensação de fracasso e incapacidade;
- Queda na produtividade e na qualidade das atividades executadas;
- Procrastinação e atrasos constantes;
- Autoestima relacionada apenas ao sucesso no trabalho;
- Desinteresse por atividades e assuntos de que sempre gostou.
Veja dicas para evitar a síndrome de burnout
Esse esgotamento todo, apesar de trazer resultados prejudiciais, pode ser tratado e curado. E o melhor, pode ser prevenido. Nós trouxemos dicas para ajudá-lo nessa prevenção, destacando a necessidade do acompanhamento profissional adequado. Agora, confira as dicas.
Inclua o descanso na sua agenda
Todas as pessoas precisam de pausas e momentos de descanso, o próprio organismo necessita disso para funcionar com saúde e equilíbrio. Entenda o descanso, e até mesmo o ócio momentâneo, como algo legítimo dentro de sua rotina. Invista seu tempo livre em atividades prazerosas, em seus hobbies, em passeios.
Pode ter certeza de que isso, sim, vai torná-lo mais produtivo e lhe dará mais estrutura para lidar com os desafios e problemas do trabalho. Se você sentir dificuldade em parar ou desligar do seu emprego ou estágio, trate os períodos de pausa como um dos itens da sua agenda. Isso mesmo, enxergue-os como um compromisso.
Procure formas de aliviar o estresse da rotina
Será que é possível ter uma rotina mais leve e criativa? A resposta é sim. Você vai precisar organizar suas responsabilidades e buscar recursos para gerenciar seu tempo. Junto a isso, inclua momentos prazerosos e períodos de autocuidado em todos os seus dias. Ainda que por meia hora, mas torne essa prática um hábito.
Use também o fim de semana para estar em contato com a natureza, para encontrar pessoas queridas, dormir um pouco mais, “fazer vários nadas” e desligar a mente do trabalho.
Divida objetivos em partes menores
Aprender a celebrar pequenas conquistas, um passo após o outro, é um caminho para grandes realizações. Quando olhamos um projeto ou desejo como um todo, ele pode parecer inalcançável ou exaustivo demais. Entretanto, se o fracionarmos em etapas, a jornada se torna mais próxima de você e a sensação de conseguir um novo passo aumenta o sentimento de satisfação e bem-estar. Experimente e perceba os resultados.
Prepare-se para mudar de emprego ou atividade
Se entre as principais causas desse desgaste está o seu trabalho atual, você precisa afastar-se dele, a fim de restabelecer seu equilíbrio e saúde mental. Sabemos que os boletos e os compromissos estão aí e que não se pode simplesmente jogar tudo para o alto. Mas você pode, no seu ritmo e nas suas possibilidades, organizar-se para mudar de emprego, ou até mesmo partir para uma transição de carreira, enfim, para viver novas experiências profissionais.
Lembre-se de que sua vida vai além do trabalho
Um dos sintomas do esgotamento profissional é atribuir a autoestima e o próprio valor como pessoa humana apenas ao sucesso na carreira. Contudo, é preciso ter o entendimento de que sucesso é relativo, cada pessoa busca objetivos diferentes. E que o trabalho é, sim, muito importante, mas não pode se tornar a sua única razão de ser. Olhe para suas relações, suas vitórias em outros setores e para seus valores. Há muito mais em sua vida e você deve e merece cuidar de todas as esferas.
E se você já apresenta os sintomas?
Por mais que aquela sensação de desmotivação e cansaço excessivo insistam em tomar conta, é muito importante você decidir procurar ajuda profissional. Com a orientação de especialistas, você receberá o devido tratamento, para restabelecer sua saúde emocional e o prazer de realizar seu trabalho.
Não passe por isso sozinho e não ignore os sintomas. Ao identificar possíveis sinais da síndrome de burnout, busque suporte. Na PUC Minas, a Faculdade de Psicologia oferece atendimento gratuito aos alunos. Você pode entrar em contato com a FAPSI PUC Minas para se informar sobre os atendimentos.
Cabe ainda ressaltar que, além das alterações físicas e emocionais que a síndrome de burnout pode causar, há mais um complicador: os prejuízos à carreira e à marca pessoal do profissional. Frente a tantos desgastes, o trabalhador pode vir a adotar comportamentos inadequados e queda no rendimento, ainda que essa não seja a intenção dele.
E não podemos deixar de trazer para o debate o papel das empresas no que se refere à construção de espaços mais emocionalmente saudáveis, na humanização das relações de trabalho e no compromisso com a qualidade de vida no contexto laboral. O mercado, assim como a sociedade, caminha para essa direção. Prova disso é a expansão mundial da agenda ESG, que tem se tornado, inclusive, um parâmetro de avaliação de riscos para investimentos.
O estabelecimento de uma relação saudável com o trabalho é fator altamente importante na sua formação e na construção da sua carreira. Por isso, mantenha-se sempre atento à sua saúde mental.